14 janeiro 2007

Entrevista de Matilde Ribeiro à Caros Amigos - 3 de 3



Entrevista da Ministra Matilde Ribeiro à revista Caros Amigos de novembro de 2006:

Thiago Domenici -- Nisso tudo, qual a importância do dia 20 de novembro, que é o Dia Nacional da Consciência Negra?

É o melhor exemplo de ação simbólica que poderíamos ter, que nos obriga, enquanto governo, a reconhecer que existiu Zumbi dos Palmares, que existiu a luta histórica contra a escravidão, e que a Abolição não aboliu. Aboliu administrativamente, mas não incluiu os negros como cidadãos e cidadãs de direito. O movimento negro teve uma atuação visionária 35 anos atrás, quando começou a dizer pelos quatro cantos do Brasil e também em espaços internacionais que, se tem o dia de Tiradentes, tem que ter o dia de Zumbi dos Palmares. Isso hoje é fato, a agenda pública brasileira tem o Dia Nacional da Consciência Negra e Zumbi dos Palmares como herói nacional. E ao mesmo tempo existem políticas públicas federais em andamento, porém insuficientes pra responder à demanda, responder a essa reivindicação que foi reprimida ao longo da história. E repetindo que ações afirmativas, neste nosso momento, constituem um vetor para a construção de políticas públicas de igualdade racial.


Entrevista - Ministra Matilde Ribeiro

Um passo pequeno para uma mulher, um passo imenso para toda uma etnia: a ministra chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, tem um orçamento que mal passa de 20 milhões de reais por ano, mas é a primeira vez, em mais de 500 anos da história dos negros no Brasil, que existe um ministério específico para promover a igualdade racial, envolvendo também índios e ciganos, palestinos e judeus. Filha de roceiros, foi empregada doméstica e operária para custear seus estudos e se formou em Serviço Social na PUC de São Paulo. Envolveu-se no movimento feminista, no movimento negro e no PT e, numa ascensão meteórica, se tornou ministra. Ela esclarece que as cotas não são primordialmente para negros e índios, mas para os carentes oriundos das escolas públicas, inclusive brancos, com as cotas sendo distribuídas segundo uma nota de corte e de acordo com a proporção das etnias em cada Estado. Para ela, a conquista principal do movimento pela igualdade racial não são as cotas, nem a sua Secretaria -- mas o reconhecimento, pelo Estado e pela sociedade, de que existe racismo no país, estando em desaparecimento o mito da "democracia racial". E, nesta entrevista, ela é taxativa: é melhor que haja brancos ressentidos por terem nota, mas não terem vaga, do que não haver negros no ensino superior.

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